terça-feira, 5 de março de 2013

Tocar e ser tocado - reflexões de uma terapeuta ocupacional





Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Do ponto de vista fisiológico tocar envolve um grande número de receptores, sensações, neurônios, músculos, lugares de superfície e profundidade...da pele pra dentro com o próprio corpo, da pele pra fora com o meio externo, da pele de quem toca e da pele de quem é tocado. 

Tocar tem nome e endereço, mas infinitas representações subjetivas. Lugar do físico e do sensível. Da construção de identidade, de linguagem, de comportamento. O fluxo de informações entre a pele e o cérebro é contínuo até quando estamos dormindo. Cada corpo se retroalimenta dando um sentido de unidade e é alimentado a partir das interações com os outros corpos. 

Desde o útero até o final da vida os sistemas tátil e proprioceptivo constituem um papel fundamental  no sentido do corpo. E juntos com os outros sentidos irão integrar corpo, percepção e emoção preparando para aprendizagem, diariamente.. 

Há uma infinidade de escritos sobre o tocar pela perspectiva das funções neurológicas,  afetivas e espirituais. Por ora, gostaria de comentar sobre o nosso tocar como terapeutas.
Somos terapeutas que tocamos muito. Valorizamos o uso das mãos, as nossas e das pessoas que nos procuram, dos objetos e do uso destes, visando a autonomia.

O toque pode organizar, nutrir, sinalizar território, proteger, direcionar, conhecer, discriminar, comunicar, afetar, compartilhar. 

O tocar pode ir além da pele, além do corpo físico. 
Por tantos motivos e significados devemos sempre ter o cuidado ao tocar as pessoas em nossos atendimentos já que o uso inadequado pode ser, ao contrário, um elemento desagregador dos seres em questão. Por exemplo, algumas pessoas precisam, pelo menos durante algum tempo, que tenha algum elemento intermediário na pele ao ser tocado, como a própria roupa ou um lençol. Muitos bebês com hipersensibilidade tátil sofrem quando são tocados diretamente pois recebem o toque como invasão, como algo desagradável. É necessário conhecer a história do sujeito, suas preferências sensoriais e investir nos elementos que organizam para daí se construir juntos outros modos de conhecimento de si e do mundo.

Que tal umas perguntinhas reflexivas? 

A partir de que lugar você toca o outro? A partir do lugar de acolher, conhecer ou só pela necessidade em aplicar uma técnica? 
O que guia o seu toque? Como se constrói o setting terapêutico a partir do toque?
Como você fica em sintonia com o cliente para perceber os efeitos do seu trabalho?
Em que nível de importância você coloca a técnica e o conhecimento do sujeito, incluindo família e cuidador?
Em que nível de presença do seu próprio corpo você se relaciona com o corpo do cliente? 
Como lhe afeta tocar e ser tocado? 

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